quinta-feira, outubro 13, 2005

Follow the rabbit and flowers will grow under your feet

Estava imensamente aborrecida. Mais um daqueles dias em que tinha que ir a Lisboa fazer uma coisa qualquer. Eu até gosto desses dias, da viagem calma de comboio, da tranquilidade do bolo de chocolate junto a uma ténue linha de água e do frenesim das sete horas da tarde. E do regresso. Gosto sempre imenso sem nunca desejar voltar e desejando sempre do regresso. Era um dia especial também. Daqueles em que temos de fazer um telefonema que nos custa, esse em que vacilamos a voz, esquecemos as palavras e sentimo-nos fora de nós, sem conseguir controlar o mais pequeno movimento do nosso cérebro. Antecipamos sempre o momento e eis que ele surge pior ainda do que poderíamos sequer ter imaginado (assim foi).
A contar os minutos, a convencer-me a mim própria de que tinha que o fazer, telefonar-lhe. Descia lentamente a avenida da Liberdade, sem grande vontade de dar um passo que fosse em relação a esse tempo próximo, muito próximo. Lembrei-me! Já tinha passado pela enorme porta da estação do Rossio, mas volto atrás. Um rodopiar de apenas dois passos, também. Entro. Afinal queria ver uma das exposições da bienal da experimenta que faltava "experimentar". E, por uns instantes, abstraí-me do tique-taque tique-taque...
Um coelho! A correr pelo chão assim que o tento apanhar! E flores! A nascer e florescer mesmo debaixo dos meus pés... Corro para um lado, volto para o outro, apressadamente, quero ver o coelho saltar mais uma vez. Rio-me! Com uma larga gargalhada solta e espontânea! (Nem imagino o que alguém possa pensar se ouvir... fez eco!)
Um clic! na minha cabeça. Tantas vezes que ando à volta com essa ideia de alteração de um espaço na experiência da intimidade... e um espaço que faça sorrir, ainda por cima! Pareceu-me (quase) perfeito. Imaginei um mundo inteiro assim. Com coelhos a saltar e flores a nascer por debaixo dos pés! Não seria perfeito? Não, sei que não... Mas um mundo inteiro em que o espaço desaparecesse por debaixo dos pés, enquanto nascia outro acompanhado de mim. Da minha tristeza, da minha alegria. Sei que há espaços assim, não quero, nem penso nesse virtual de que (quase) todos falam e de que (quase) todos pensam que é apenas um espaço gerado por computadores ou o espaço cibernético ou mesmo um espaço futuro desconhecido de que se tem uma vaga ideia através de formas estranhas e informes... Tento sempre pensar num espaço virtual aqui. Aquele que será sempre virtual no momento exacto em que me coloco face a ele e me desdobro para compreender as suas mais estranhas faces. Gosto de sorrir! Gosto muito de sorrir...