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Parte I - Volver
Há regressos que não são regressos. Não penso numa viagem temporária, em que, passados alguns dias, se regressa, nem num regresso definitivo a qualquer lugar, que, anteriormente, fizera parte das nossas vidas (como por exemplo, o lugar natal). A palavra "volver", em castelhano, é muito mais complexa do que a palavra portuguesa equivalente, "voltar". O filme de Almodóvar, com este mesmo título, ilustra bem essa complexidade, não só pelo significado que o regresso tem no filme, mas pelo outro significado (outros significados) que a palavra "volver" vai adquirindo ao longo da história. Neste momento, penso em dois regressos. O primeiro: o meu regresso a Barcelona, um ano depois. O outro: o meu regresso a Coimbra e a tudo o que deixei. E os dois aliam-se nesse segundo significado da palavra "volver": mudar, transformar, virar do avesso (no filme de Almodóvar, o significado é ainda mais preciso, mais forte: é uma transformação que parte das entranhas ou é a partir das entranhas que se tem de mudar... com toda a força!).
Quando chego a Barcelona, é impossível não me recordar da minha rotina naquela cidade, há cinco anos atrás. Não consigo deixar de voltar aos mesmos sítios, mesmo sabendo que a cidade está sempre em contínua transformação. Num ano, consegui reconhecer transformações enormes. No vazio do edifício, cujo desaparecimento lamentava o ano passado, avança a construção de mais um edifício de "luxo" no Raval, que se está a transformar, aos poucos, num bairro fashion. O Sandwich & Friends (S&F), por exemplo, vai aí abrir brevemente (http://www.sandwichandfriends.com). Ora, para mim, o S&F é paragem obrigatória para almoço: "un enrrollado caliente Fede e una ensalada Mónica". Mas no Born, para matar saudades. O mítico Champion das Ramblas, onde fazia as compras e, como ainda dizia hoje a Mok, "o supermercado com o ambiente mais divertido que já conheci", passou a ser Carrefour. Nome novo, apresentação nova, mas o mesmo caos de sempre, as filas intermináveis e a confusão instaurada de pessoas e bens de consumo. Continua divertido! A rede de transportes urbanos está cada vez maior e mais eficaz. Mais uma vez, num ano fizeram-se grandes avanços e a mobilidade na cidade está cada vez mais facilitada. A adicionar: um serviço de aluguer de bicicletas (que começa a ser um transporte "público", à semelhança de Zurique, cuja imagem de mil e uma bicicletas alinhadas à porta da estação central – os dois grandes transportes públicos em Zurique - não me sai da cabeça). No entanto, digo-o outra vez: não consigo deixar de voltar aos mesmos sítios e claro que é impossível fazê-lo, mas reconhecê-los, nem que seja numa breve passagem. E não consigo explicar as razões... pois não são motivos nostálgicos ou saudosistas... talvez similares àqueles porque tiramos fotografias, por exemplo. Querer captar um momento único e abrupto, que condensa uma memória inesquecível, que temos medo de esquecer, de apagar, de deixar de a sentir dentro de nós. Porque enquanto dura, ela perpetua, mais do que o momento, outras coisas, novas coisas, que dela nascem, que nela têm origem. Não é um simples reviver. O meu regresso a Barcelona nunca é um regresso.
Ainda não foi desta vez que fui ao Fòrum. Guardo uma única imagem do enorme triângulo azul, quando o piloto do avião, para fazer tempo, sobrevoou Barcelona. Mas, regressei ao pavilhão de Mies van der Rohe (back to the classics) e visitei a piscina de Álvaro Siza. Depois da minha visita a São Benedito, creio que não vá sentir tão intensamente uma visita a uma obra de arquitectura. No entanto, é fácil encantarmo-nos com a forma da piscina de Álvaro Siza. É quase sempre referida a cúpula elíptica com as várias clarabóias e o efeito da luz, que perpassa por elas, na água. Mas não é só na água, é em todo o espaço. E, neste, é a forma que adquire uma força maior. Não é a forma da elipse, mas o conjunto das formas – o volume elíptico, os contornos da água e a rampa – que permitem visões diferentes ao longo do espaço-contentor. As clarabóias apenas produzem um padrão (que varia, ao longo do dia, consoante a luz, mas que é, mais ou menos, estável, durante um banho). Se nos colocarmos ao longo da piscina, em vários pontos, e anularmos, por exemplo, a presença do "tecto", temos imagens, percepções, completamente diferentes da forma. Como se o espaço estivesse sempre em rotação. Se introduzirmos o efeito do tecto, temos uma imagem que nos parece sempre comum, denominada fortemente pela luz das clarabóias. Mas o efeito não deixa de ser bonito e sedutor (imprescindível, até).
Há regressos que não são regressos. Não penso numa viagem temporária, em que, passados alguns dias, se regressa, nem num regresso definitivo a qualquer lugar, que, anteriormente, fizera parte das nossas vidas (como por exemplo, o lugar natal). A palavra "volver", em castelhano, é muito mais complexa do que a palavra portuguesa equivalente, "voltar". O filme de Almodóvar, com este mesmo título, ilustra bem essa complexidade, não só pelo significado que o regresso tem no filme, mas pelo outro significado (outros significados) que a palavra "volver" vai adquirindo ao longo da história. Neste momento, penso em dois regressos. O primeiro: o meu regresso a Barcelona, um ano depois. O outro: o meu regresso a Coimbra e a tudo o que deixei. E os dois aliam-se nesse segundo significado da palavra "volver": mudar, transformar, virar do avesso (no filme de Almodóvar, o significado é ainda mais preciso, mais forte: é uma transformação que parte das entranhas ou é a partir das entranhas que se tem de mudar... com toda a força!).
Quando chego a Barcelona, é impossível não me recordar da minha rotina naquela cidade, há cinco anos atrás. Não consigo deixar de voltar aos mesmos sítios, mesmo sabendo que a cidade está sempre em contínua transformação. Num ano, consegui reconhecer transformações enormes. No vazio do edifício, cujo desaparecimento lamentava o ano passado, avança a construção de mais um edifício de "luxo" no Raval, que se está a transformar, aos poucos, num bairro fashion. O Sandwich & Friends (S&F), por exemplo, vai aí abrir brevemente (http://www.sandwichandfriends.com). Ora, para mim, o S&F é paragem obrigatória para almoço: "un enrrollado caliente Fede e una ensalada Mónica". Mas no Born, para matar saudades. O mítico Champion das Ramblas, onde fazia as compras e, como ainda dizia hoje a Mok, "o supermercado com o ambiente mais divertido que já conheci", passou a ser Carrefour. Nome novo, apresentação nova, mas o mesmo caos de sempre, as filas intermináveis e a confusão instaurada de pessoas e bens de consumo. Continua divertido! A rede de transportes urbanos está cada vez maior e mais eficaz. Mais uma vez, num ano fizeram-se grandes avanços e a mobilidade na cidade está cada vez mais facilitada. A adicionar: um serviço de aluguer de bicicletas (que começa a ser um transporte "público", à semelhança de Zurique, cuja imagem de mil e uma bicicletas alinhadas à porta da estação central – os dois grandes transportes públicos em Zurique - não me sai da cabeça). No entanto, digo-o outra vez: não consigo deixar de voltar aos mesmos sítios e claro que é impossível fazê-lo, mas reconhecê-los, nem que seja numa breve passagem. E não consigo explicar as razões... pois não são motivos nostálgicos ou saudosistas... talvez similares àqueles porque tiramos fotografias, por exemplo. Querer captar um momento único e abrupto, que condensa uma memória inesquecível, que temos medo de esquecer, de apagar, de deixar de a sentir dentro de nós. Porque enquanto dura, ela perpetua, mais do que o momento, outras coisas, novas coisas, que dela nascem, que nela têm origem. Não é um simples reviver. O meu regresso a Barcelona nunca é um regresso.
Ainda não foi desta vez que fui ao Fòrum. Guardo uma única imagem do enorme triângulo azul, quando o piloto do avião, para fazer tempo, sobrevoou Barcelona. Mas, regressei ao pavilhão de Mies van der Rohe (back to the classics) e visitei a piscina de Álvaro Siza. Depois da minha visita a São Benedito, creio que não vá sentir tão intensamente uma visita a uma obra de arquitectura. No entanto, é fácil encantarmo-nos com a forma da piscina de Álvaro Siza. É quase sempre referida a cúpula elíptica com as várias clarabóias e o efeito da luz, que perpassa por elas, na água. Mas não é só na água, é em todo o espaço. E, neste, é a forma que adquire uma força maior. Não é a forma da elipse, mas o conjunto das formas – o volume elíptico, os contornos da água e a rampa – que permitem visões diferentes ao longo do espaço-contentor. As clarabóias apenas produzem um padrão (que varia, ao longo do dia, consoante a luz, mas que é, mais ou menos, estável, durante um banho). Se nos colocarmos ao longo da piscina, em vários pontos, e anularmos, por exemplo, a presença do "tecto", temos imagens, percepções, completamente diferentes da forma. Como se o espaço estivesse sempre em rotação. Se introduzirmos o efeito do tecto, temos uma imagem que nos parece sempre comum, denominada fortemente pela luz das clarabóias. Mas o efeito não deixa de ser bonito e sedutor (imprescindível, até).
Parte II – My Sónar (os meus preferidos)
Sónar de Día:
(dj) James Holden
(live) Piana
(live) Clark
(live) Planningtorock
Sónar de Noche:
(live) Beastie Boys
(live) Dizzee Rascal
(live) Digitalism
(dj) Spacek & Benji B Soundsystem
(live) Devo
(live) Mogwai A melhor parte: o Sónar. Infelizmente, de difícil descrição. Receio, ao tentar descrever, cair nas vulgares expressões, "fantástico", "brutal", "excepcional", etc. (todas o resumem bem e todas são insuficientes para o descrever). É, realmente, um ambiente único, especialmente, durante o dia, quando se está em plena Barcelona e se pode sair e dar uma volta e voltar e dançar... Guardo uma imagem curiosa: as pessoas, com o papel amarelo do programa do Sónar, de um lado para o outro, para apanhar o espectáculo que mais querem ver no momento. O programa é vastíssimo e obriga a essa selecção criteriosa (o que, infelizmente, anula um encontro mais acidental com um concerto ou outro), notando-se que existe, de facto, uma cultura digital (de música electrónica, experimental, aliada às novas tecnologias e à arte digital) enraizada. Há vários críticos que acusam o Sónar de ter perdido o seu carácter experimental e de se aproximar, cada vez mais, dos festivais de música de bandas "estabelecidas". Mas não nos podemos esquecer que o digital já não é experimental, já ultrapassou há muito esse discurso, como cyborgs não são ficção científica... Eu gosto, especialmente, de misturas. Quando sonoridades tão distintas se aliam e constroem um som novo. E o telúrico se transforma em digital. E o hip-hop em digital. E o sensível em espacial.
Outra coisa interessante na música electrónica é que ela atinge, muito facilmente, em determinados registos, o nosso sistema nervoso. Não se trata da questão do volume da música (isso pode suceder com qualquer música), mas da composição de determinados sons, só possíveis digitalmente. Pela primeira vez, não consegui suportar um som. E abandonei um concerto (Haswell & Hecker).
Sónar de Día:
(dj) James Holden
(live) Piana
(live) Clark
(live) Planningtorock
Sónar de Noche:
(live) Beastie Boys
(live) Dizzee Rascal
(live) Digitalism
(dj) Spacek & Benji B Soundsystem
(live) Devo
(live) Mogwai A melhor parte: o Sónar. Infelizmente, de difícil descrição. Receio, ao tentar descrever, cair nas vulgares expressões, "fantástico", "brutal", "excepcional", etc. (todas o resumem bem e todas são insuficientes para o descrever). É, realmente, um ambiente único, especialmente, durante o dia, quando se está em plena Barcelona e se pode sair e dar uma volta e voltar e dançar... Guardo uma imagem curiosa: as pessoas, com o papel amarelo do programa do Sónar, de um lado para o outro, para apanhar o espectáculo que mais querem ver no momento. O programa é vastíssimo e obriga a essa selecção criteriosa (o que, infelizmente, anula um encontro mais acidental com um concerto ou outro), notando-se que existe, de facto, uma cultura digital (de música electrónica, experimental, aliada às novas tecnologias e à arte digital) enraizada. Há vários críticos que acusam o Sónar de ter perdido o seu carácter experimental e de se aproximar, cada vez mais, dos festivais de música de bandas "estabelecidas". Mas não nos podemos esquecer que o digital já não é experimental, já ultrapassou há muito esse discurso, como cyborgs não são ficção científica... Eu gosto, especialmente, de misturas. Quando sonoridades tão distintas se aliam e constroem um som novo. E o telúrico se transforma em digital. E o hip-hop em digital. E o sensível em espacial.
Outra coisa interessante na música electrónica é que ela atinge, muito facilmente, em determinados registos, o nosso sistema nervoso. Não se trata da questão do volume da música (isso pode suceder com qualquer música), mas da composição de determinados sons, só possíveis digitalmente. Pela primeira vez, não consegui suportar um som. E abandonei um concerto (Haswell & Hecker).
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