sábado, outubro 15, 2005

Uma tarde de Sábado e quase uma noite de lua cheia

Nunca pensei que poderia ser assim o meu reencontro com Deleuze. Desde ontem que percebi que aconteceria muito em breve, porque passarei a ler e reler os seus textos lindíssimos. Mas dificilmente esperava que esse reencontro sucedesse hoje e de forma tão bonita. Uma perfeita tarde de Sábado, vou até ao centro comercial mais próximo (sim, como tantas outras pessoas que povoam esses sistemas aos fins de semana, mas que nem mesmo o aspecto de labirinto do jardim da Rainha de Copas, me deixa particularmente feliz por ter que o habitar por breves, mas densos, instantes) comprar uma prenda de aniversário para a minha cunhada (sabia também que já a deveria ter comprado, até porque nestes sítios, ao contrário do que pretendem simbolizar, não abunda a diversidade, no seu sentido, claro, de diferença), aproveito para ver as novidades na Bertrand, que agora adoptou esse conceito Fnac com um toque de hospitalidade portuguesa (cantos e recantos para todos os tempos e momentos) quando o encontro, ao virar de uma página do livro de Eduardo Prado Coelho. Um reencontro indirecto, é certo, mas que me fez crer que estava verdadeiramente na sua presença. Do seu pensamento. As palavras de Eduardo Prado Coelho conseguiram emocionar-me na sua simplicidade de resumir toda uma vida e a vida, o conceito mais extraordinário de Deleuze. O sim à vida, à alegria. Em todas as suas complexidades e desdobramentos. Não quero reproduzir as palavras exactas de Eduardo Prado Coelho, têm que se descobrir. Essa é uma experiência íntima. A minha foi.
A minha opção torna-se cada vez mais presente. Há... quantos anos? Creio que há três anos... iniciei um outro percurso na minha formação. Não, não quero dizer "na minha formação", mas talvez antes "na minha cabeça". Entretanto, peguei no carro e fui até outro centro comercial e parada num semáforo pensei: como é que aquelas palavras me podiam ter exaltado de tamanha alegria e eu pensava-as, pensara-as sempre, na sua aplicação mais quotidiana possível e observava, daquele semáforo vermelho, as pessoas a convergir para um espaço alienado de tudo quanto aquelas palavras poderiam significar para mim e eu desejava aplicar a esse mesmo espaço quotidiano, da vida de todos. A velha questão torna-se proeminente: por que é que os arquitectos se interessam tanto pela filosofia e, neste século especificamente, por Deleuze e Derrida? Escapa-me qualquer coisa. Será essa que tentarei encontrar nos próximos tempos? Parece-me, e essa ideia não veio nesse momento parada no semáforo vermelho, que há um desfasamento qualquer entre realidades. Mal arranquei, sucumbi os meus pensamentos novamente à prenda para a Fátima.