quinta-feira, setembro 06, 2007

De regresso

para G
Regressei a Coimbra já há alguns dias. Aliás, agora que penso no tempo dessa forma, regressei, precisamente, há uma semana. Mentiria se dissesse que tinha uma vontade enorme de voltar a escrever. Não tinha, é verdade. Mas, então, por que escrevo? Agora, neste momento? Até poderia dar uma resposta bonita, a mim própria, mas, mais uma vez, iria enganar-me. Poderei eu ter deixado de gostar de escrever? Creio que não... E, no entanto, coloco reticências. Há momentos assim. Creio que desta vez é a sério. Que as palavras serão sempre insuficientes para dizer as coisas, para dizer as sensações. Não estou a atravessar uma fase. Esta, será eterna. Nem partilho a angústia de Hofmannsthal, por exemplo. Não conseguirei abandonar a escrita a esse ponto, porque ainda continuarei a precisar dela para sobreviver. Porque ainda preenche uma parte de mim. Mas, agora, essa parte é ínfima, para não dizer prescindível. Porque continuo a gostar de escrever. Apenas sei, no meu íntimo, que não voltarei a escrever como antes. Agora, neste momento, escrevo, porque regressei à escrita de outra forma. Cumpro o que propus fazer, escrever. E faço-o com prazer (nem poderia ser de outra maneira!). Mas, por tudo o que sinto, as palavras não correm nas minhas veias como antigamente... e, novamente, um esforço terei de fazer para voltar a escrever. Hesitei. Hesitei por entre esse medo enorme de as palavras perder para sempre. O custo? Não existe. Como em tudo quando se ama. Mas, aqui e agora, tenho de fazer esse esforço para conseguir voltar a escrever. E resistir a contaminar as minhas palavras com a maior alegria de sempre.
Não escreverei sobre o meu tempo de exílio. Simplesmente, não consigo e duvidarei um dia conseguir. Talvez sejam, agora, as palavras a precisarem de tempo, para se acomodarem à sua nova condição. O meu, terminou. Uma ilha visitei. E, de certo modo, continuo a visitar, a ir lá na minha imaginação, em todas as coisas que faço e vejo e sinto. A imagem serve, apenas, para confundir. A ilha que aparece na minha imaginação tem outro nome. Mas, de regresso: não deixarei de escrever. Volto, apenas, ao início deste blog: a um exercício das palavras, quando preciso de as escrever melhor do que nunca. E, novamente, a esse medo terrível de as palavras falharem. E, no entanto, com essa certeza: falham sempre quando dizem a melhor coisa do Mundo!

3 Comments:

Blogger AnaCAlmeida said...

Bem vinda! Já tinhamos saudades...

quinta-feira, setembro 06, 2007  
Blogger the F.B.I. said...

Este comentário foi removido pelo autor.

sexta-feira, setembro 07, 2007  
Blogger the F.B.I. said...

As palavras terão uma vida inteira para se acomodarem à sua nova condição. Merecem a eternidade ao teu lado, pois não foram senão elas que a construíram, que vão atravessar todos os dias o mar de volta à ilha que imaginas, impossível aqui, absurda, abjecta, ridícula e, contudo, sagrada e, apesar de tudo, venerável.

sexta-feira, setembro 07, 2007  

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