O último dia do Ano
Fiz uma pausa no meu trabalho e decidi, antes da chegada de todas as palavras novas, dedicar este momento a escrever algumas que eu gostasse de recordar por esse(s) ano(s) fora. Não se trata de retrospectiva alguma sobre o ano que passou, nem pouco guardar os bons momentos dentro de palavras mais ou menos perenes, mas dedicar este momento a alguma coisa, ou no meu caso, a alguém. Ou a duas pessoas: à minha Mãe e a um dos meus melhores amigos, o Hugo. Não que exclua todas as outras pessoas que compõem a minha vida e me compõem a mim... não! São todas importantes, demasiado importantes! Mas este ano marcaram-me fortemente e, de uma maneira muito estranha, andam quase sempre ligadas. Já todos conhecem a minha enorme paixão e admiração pela minha Mãe. Não é de estranhar, por conseguinte, dedicar-lhe este dia e todos os outros que se seguem. Mas neste momento tem um outro significado só compreensível na sua própria força de vida. Só traduzível em si mesma e nunca por meras palavras. O Hugo... O Hugo é um dos meus melhores amigos. Sem dúvida. E agora está distante, embora eu nunca tenha realmente sentido distância alguma. Custa-me ainda muito, imenso!, pensar na relação que existe entre a minha Mãe e o Hugo. Eles próprios não sabem, nem sequer desconfiam, mas hoje parei para pensar nisso mesmo. Porque sinto, ao contrário do que poderia esperar, uma pequena e doce alegria por os reunir em momentos de uma tristeza sufocante ou mesmo agonia...
Abril de 2000: estava em casa do Hugo a fazer a minha página para a plaqueta. Lembro-me de pormenores tão estranhos, como tão reveladores, daqueles dias. Onde tinha o carro estacionado, onde o Hugo tinha o estirador e eu o meu telemóvel pousado. Já dos instantes seguintes a este tocar e ouvir as palavras do meu irmão João me lembro tão pouco. Foi o Hugo quem me deu o primeiro abraço após a morte da minha avó Luísa.
Julho de 2005: o Hugo estava em Coimbra uns dias para... já nem sei bem! E tinha combinado com vários amigos tomar café. Apesar do prenúncio das horas anteriores já demasiado angustiantes, eu não queria perder a oportunidade de estar com o Hugo, não! Vesti-me e saí. Ao descer as escadas de casa, comecei a ouvir os primeiros rumores. Duas vozes familiares e algumas palavras imperceptíveis. Afinal era o meu irmão Miguel e o meu pai a conversarem. Qual o meu espanto por os ver ali, à porta da garagem, encostados ao carro, àquela hora da noite, a falar baixinho. A minha Mãe havia feito a citologia naquela mesma tarde e não foram precisas muitas palavras para saber de que é que eles falavam. Os olhos vermelhos e inchados do meu irmão disseram-me tudo. Voltei para trás, dei uma desculpa qualquer à minha Mãe dizendo-lhe que afinal já não me apetecia sair. Nesse instante, ela soube. Fechei-me no quarto para esconder as lágrimas e a minha Mãe, passado algum tempo e já de camisa de dormir, abriu a porta e disse-me que já sabia. Que soube, mal eu voltei para trás. Que eu escusava de lhe esconder. Eu insisti que não me apetecia sair. Só isso. O Hugo foi o primeiro dos meus amigos a saber. E de Pamplona, para onde regressou passados poucos dias, me telefonou várias vezes... e ficávamos, por vezes, uma hora a falar...
Há poucos dias, tive a enorme alegria de lhe poder dizer que estava tudo bem, que me sentia especialmente feliz após tantos momentos difíceis nos últimos meses. Um dia, um destes dias, irei, de certeza, reencontrá-los de outra forma. É talvez por isso, por esse enorme desejo, que lhes dedico este dia.
Abril de 2000: estava em casa do Hugo a fazer a minha página para a plaqueta. Lembro-me de pormenores tão estranhos, como tão reveladores, daqueles dias. Onde tinha o carro estacionado, onde o Hugo tinha o estirador e eu o meu telemóvel pousado. Já dos instantes seguintes a este tocar e ouvir as palavras do meu irmão João me lembro tão pouco. Foi o Hugo quem me deu o primeiro abraço após a morte da minha avó Luísa.
Julho de 2005: o Hugo estava em Coimbra uns dias para... já nem sei bem! E tinha combinado com vários amigos tomar café. Apesar do prenúncio das horas anteriores já demasiado angustiantes, eu não queria perder a oportunidade de estar com o Hugo, não! Vesti-me e saí. Ao descer as escadas de casa, comecei a ouvir os primeiros rumores. Duas vozes familiares e algumas palavras imperceptíveis. Afinal era o meu irmão Miguel e o meu pai a conversarem. Qual o meu espanto por os ver ali, à porta da garagem, encostados ao carro, àquela hora da noite, a falar baixinho. A minha Mãe havia feito a citologia naquela mesma tarde e não foram precisas muitas palavras para saber de que é que eles falavam. Os olhos vermelhos e inchados do meu irmão disseram-me tudo. Voltei para trás, dei uma desculpa qualquer à minha Mãe dizendo-lhe que afinal já não me apetecia sair. Nesse instante, ela soube. Fechei-me no quarto para esconder as lágrimas e a minha Mãe, passado algum tempo e já de camisa de dormir, abriu a porta e disse-me que já sabia. Que soube, mal eu voltei para trás. Que eu escusava de lhe esconder. Eu insisti que não me apetecia sair. Só isso. O Hugo foi o primeiro dos meus amigos a saber. E de Pamplona, para onde regressou passados poucos dias, me telefonou várias vezes... e ficávamos, por vezes, uma hora a falar...
Há poucos dias, tive a enorme alegria de lhe poder dizer que estava tudo bem, que me sentia especialmente feliz após tantos momentos difíceis nos últimos meses. Um dia, um destes dias, irei, de certeza, reencontrá-los de outra forma. É talvez por isso, por esse enorme desejo, que lhes dedico este dia.
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