segunda-feira, novembro 28, 2005

Depois de dez horas de sono

Estou de volta! Ontem, quando cheguei a Coimbra, ainda pensei em escrever algumas palavras sobre a fantástica noite de Sábado, mas as poucas horas de sono imobilizaram imediatamente qualquer vontade que tivesse em fazê-lo. Acho que, também, não iria conseguir dizer grande coisa, grande de justo e à medida, de tão emocionada que estava. Ainda estou. Portanto, as palavras vão escapar-me mais uma vez...
O João V. decidiu oferecer-me, como prenda de aniversário, um bilhete para a festa da Oxigénio, mais especificamente, para o concerto do Jamie Lidell, para minha felicidade! Vai ser difícil não cair em repetição, porque já foram muitas as pessoas que viram um concerto do Jamie e escreveram sobre ele. Que o Jamie se desdobra em contínuas transformações de si mesmo, já todas as pessoas sabem. Que o Jamie tem uns sapatos engraçados, já todas as pessoas sabem. Que o Jamie cola fita preta na maçã do seu Mac, já todas as pessoas sabem. Que o Pablo Fiasco é um grande maluco, também, já todas as pessoas sabem. O que é que as pessoas não sabem? Não faço a mínima ideia! Mas eu soube, mal começou a cantar, quem era Jamie Lidell. Como canta, como dança, como fala ternamente com o público, como diz timidamente "thank you" com um sorriso de miúdo de cinco anos a receber um enorme chupa-chupa vermelho em espiral e sem qualquer pretensão de artista que sai na capa da Wire ou cujo álbum foi considerado, por muitos, como um dos melhores dos últimos tempos. O Jamie é um rapaz simples. Costuma ele dizer, a quem já teve esse privilégio de conversar com ele enquanto come sopa, que é um rapaz do campo. O Jamie não gosta de cidades, prefere viver numa cidade calma e mais pequena do que numa Metropolis. E isso sente-se. A sua felicidade sente-se nessa simplicidade genuína. E vive em Berlim por isso mesmo. Porque quando sai à rua, encontra os amigos e as pessoas dizem-lhe olá e adeus e bom dia e boa tarde e tudo o que lhes vai na cabeça naquele momento. Porque, como diz, é um rapaz do campo. Simples. Com uma vida simples. Mas muito bonita. Sim, é isso que eu sei. A vida de Jamie Lidell é muito bonita. E está presente nesse tudo que ele faz durante um concerto. Que o Jamie faz tudo, também, já as pessoas sabem. E que é um sonhador, como ele diz, também. "Boy in a bubble". Sim. E eu também. O espaço do Sabotage (sem comentários, para salvaguardar qualquer juízo possível) desapareceu naquele instante em que o Jamie começou a cantar. Ouço agora, também. Não para me servir de inspiração, mas para poder reviver uma vez mais, ainda que de forma diferente, esse momento. O espaço desapareceu, o mundo desapareceu. E eu transformei-me em bola de sabão de superfície tangível a sons, formas, imagens, pequenas partículas que tornavam o ar mais leve (qual fumo?) e os meus sentidos infinitos. Desapareceu tudo! Puf! Num instante! E eu, bola de sabão, flutuei, flutuei... Os sonhos desapareceram, também. Porque deixaram de o ser. Numa bola de sabão e ao som de Jamie Lidell são reais e são possíveis. Porque é um rapaz simples e gosta de palavras simples. O Jamie diz o que tem a dizer, de forma simples, sem metáforas. Sem esconder, por trás de palavras bonitas e complicadas, o que sente. Quando diz "the city it don't like you", é mesmo isso que quer dizer. Qual metáfora, quais influências! Gosta de viver em Berlim. O Eduardo A., antes da primeira aula da manhã de Sexta-feira, perguntava-me a brincar, enquanto eu lhe explicava a letra de "Multiply", se eu iria fazer um trabalho para o seminário do José sobre isso. Sorri: "porque não?!". "Sabes o que é engraçado?" e acrescentei a história do Jamie sobre Berlim e depois a minha pequena reflexão sobre Berlim enquanto cidade e por aí fora... Provavelmente, terei um pouco de Jamie Lidell (ou serei um pouco Jamie Lidell) no trabalho para o José, que um dia nos perguntou por que é que existem músicos e arquitectos (entre outros) inspirados em Deleuze. Faz sentido.
Foi, realmente, um concerto fantástico! E como pensava, não soube dizer senão umas palavras dispersas sobre tudo o que aconteceu. Sobre os dois concertos anteriores, também, não vou conseguir dizer muito. Não me apetece... (o que não é sinónimo de não ter gostado, porque gostei). A não ser: viva o bigode! Se for a expressão de bons músicos, vale a pena!
E agora... algumas imagens, que começam a fazer falta por aqui!