O começo
O começo. Assim iniciava uma aula, o Pedro. Com o que é o começo. Pelo meio dizia-nos que muitos escritores começam a sua obra com apenas uma frase. Porque um escritor nunca sabe o que vai escrever, nunca sabe o que será o fim daquilo que inicia no momento. Arthur Miller construiu uma cabana para escrever a sua obra e durante todo o tempo tinha apenas uma frase na cabeça, uma só, a do começo. Virginia Wolf, idem. Contava-nos, o Pedro. Entre outras coisas. Como os dedos sabem mais de palavras do que a cabeça. Como quando se pensa no que se escreve, sai tudo mal. Entre outras coisas.
Entretanto tínhamos passado, também, a outra pergunta e a outra. Foi uma aula de perguntas, sem respostas. Nem creio que as vá encontrar e muito menos ali. O Pedro não gosta de palavras difíceis. Como o compreendi! Se puder dizer tudo o que quero que o outro saiba e ouça com palavras fáceis, com palavras simples, serei mais feliz. Fica tudo reduzido a si próprio. Sem dramas, sem metáforas, sem imagens, sem crises de histerismo ou de loucura. As coisas e as palavras que dizem as coisas reduzem-se e resumem-se a elas mesmas. Sem grandes artifícios, sem grandes malabarismos frenéticos entre composições frásicas. É aquilo e ponto final.
O Pedro gosta muito de Coimbra. Inclusive, já escreveu sobre Coimbra... "Cidade Estrangeira", recorda-se, entretanto do título do que escrevera em tempos. E gosta do "Portugal dos Pequenitos". Não é "Portugal dos Pequeninos", dizia, mas "dos Pequenitos", o que faz toda a diferença. De facto, faz. E ri-se. Com uma enorme gargalhada, estrondosa: faz uma pausa propositadamente, olha-nos a todos e começa com um primeiro "Ah!" solto e louco, ao mesmo tempo. Sobe imediatamente o tom e é impossível conter o riso perante a sua gargalhada. Num instante, estamos todos a rir sem saber muito bem porquê. Ainda agora me rio só de ouvir a sua gargalhada outra vez. É bonita.
"Descongestionante", dizia o João da aula do Pedro. Eis uma palavra fácil para a descrever. A sensação é muito idêntica. Serviu para desentupir a cabeça de conceitos, de palavras difíceis, de palavrões, de preconceitos. "Tratem-me por Senhor Professor ou Pedro". Fascinante, sem dúvida... Apesar de toda a loucura que o abraça e que lhe faz tremer as mãos ou falar do filho de quinze anos como estivesse a falar de um puto de quatro. Ou que o obriga a fazer pausas demoradas entre as palavras simples e os pensamentos simples para respirar. E a sua respiração ouve-se. Também é extremamente sonora, embora não tanto como a sua gargalhada. E uma faz rir e a outra não...
Foi um excelente começo! A par de um outro que, apesar do seu início ter ocorrido há algumas semanas atrás, ganha outras formas e contornos e nomes. Começamos a conhecer-nos uns aos outros, a saber aquelas coisas simples, ora aí está!, mas muito importantes. E é maravilhoso. Já não faço todas as viagens sozinha. Ontem já me sentei a descansar no café de Santa Apolónia acompanhada.
Entretanto tínhamos passado, também, a outra pergunta e a outra. Foi uma aula de perguntas, sem respostas. Nem creio que as vá encontrar e muito menos ali. O Pedro não gosta de palavras difíceis. Como o compreendi! Se puder dizer tudo o que quero que o outro saiba e ouça com palavras fáceis, com palavras simples, serei mais feliz. Fica tudo reduzido a si próprio. Sem dramas, sem metáforas, sem imagens, sem crises de histerismo ou de loucura. As coisas e as palavras que dizem as coisas reduzem-se e resumem-se a elas mesmas. Sem grandes artifícios, sem grandes malabarismos frenéticos entre composições frásicas. É aquilo e ponto final.
O Pedro gosta muito de Coimbra. Inclusive, já escreveu sobre Coimbra... "Cidade Estrangeira", recorda-se, entretanto do título do que escrevera em tempos. E gosta do "Portugal dos Pequenitos". Não é "Portugal dos Pequeninos", dizia, mas "dos Pequenitos", o que faz toda a diferença. De facto, faz. E ri-se. Com uma enorme gargalhada, estrondosa: faz uma pausa propositadamente, olha-nos a todos e começa com um primeiro "Ah!" solto e louco, ao mesmo tempo. Sobe imediatamente o tom e é impossível conter o riso perante a sua gargalhada. Num instante, estamos todos a rir sem saber muito bem porquê. Ainda agora me rio só de ouvir a sua gargalhada outra vez. É bonita.
"Descongestionante", dizia o João da aula do Pedro. Eis uma palavra fácil para a descrever. A sensação é muito idêntica. Serviu para desentupir a cabeça de conceitos, de palavras difíceis, de palavrões, de preconceitos. "Tratem-me por Senhor Professor ou Pedro". Fascinante, sem dúvida... Apesar de toda a loucura que o abraça e que lhe faz tremer as mãos ou falar do filho de quinze anos como estivesse a falar de um puto de quatro. Ou que o obriga a fazer pausas demoradas entre as palavras simples e os pensamentos simples para respirar. E a sua respiração ouve-se. Também é extremamente sonora, embora não tanto como a sua gargalhada. E uma faz rir e a outra não...
Foi um excelente começo! A par de um outro que, apesar do seu início ter ocorrido há algumas semanas atrás, ganha outras formas e contornos e nomes. Começamos a conhecer-nos uns aos outros, a saber aquelas coisas simples, ora aí está!, mas muito importantes. E é maravilhoso. Já não faço todas as viagens sozinha. Ontem já me sentei a descansar no café de Santa Apolónia acompanhada.
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