O Fim
O começo foi o fim também. Será que chegou a ser mesmo um começo? Hoje duvido muito que tenha sido, duvido que tenha sequer existido. É uma memória, vaga e distante, na atribulação dos dias, dos meus dias. Tenho saudades do que nem sequer existiu. Será possível? Nem letra alguma de JC me conforta: it would be just an another bad cover version. Nem mesmo a solução de Jamie Lidell: "I'm so tired of repeating myself / beating myself up / wanna take a trip and multiply / least go under with a smile". Tinha essa esperança de descansar de mim mesma e do mundo complicado das palavras complicadas, dos gestos complicados e das pessoas complicadas. Tinha essa esperança de, durante duas horas e pouco, mandar tudo ao ar e respirar de novo. "Breathe in. Breath out. Breath in. Breath out" (Pulp). Só isto.
O fim foi devidamente anunciado pelo José. O Pedro está doente. Está muito doente, como ele próprio diz e com gosto em poder dizê-lo. Não sei se gosta de estar doente ou se gosta da ideia de um dia "dar um tiro nos miolos", mas gosta de o dizer. Dizer que está muito doente e que um dia "dá um tiro nos miolos". Curiosamente, após a morte anunciada das aulas do Pedro pelo José, encontrei um livro do Pedro na estante das últimas novidades: "Os corações também se gastam". A capa é prateada e na parte que dobra lá aparece a última imagem do Pedro (antes de cortar o cabelo e parecer ainda mais gordo). As letras do título são a vermelho (porque será?). E o conjunto, o livro, salta à vista. Mais ainda quando se lê o título. Mas o coração do Pedro não está gasto. Está aparentemente gasto, porque ele o quer gasto e que todos o recebam com um coração gasto. O meu, nem pensar! Se o fim nem sequer chegou para esgotar o que nem sequer existiu, como poderia eu alguma vez gastar o meu coração?
A lufada de ar fresco ficará a pairar no ar. Na próxima semana, refarei toda a minha rotina mais uma vez (a antiga também não chegou a ser rotina). E preparo-me para esquecer tudo o que já deveria ter esquecido há muito. Sexta, às nove e meia, lá estarei.
O fim foi devidamente anunciado pelo José. O Pedro está doente. Está muito doente, como ele próprio diz e com gosto em poder dizê-lo. Não sei se gosta de estar doente ou se gosta da ideia de um dia "dar um tiro nos miolos", mas gosta de o dizer. Dizer que está muito doente e que um dia "dá um tiro nos miolos". Curiosamente, após a morte anunciada das aulas do Pedro pelo José, encontrei um livro do Pedro na estante das últimas novidades: "Os corações também se gastam". A capa é prateada e na parte que dobra lá aparece a última imagem do Pedro (antes de cortar o cabelo e parecer ainda mais gordo). As letras do título são a vermelho (porque será?). E o conjunto, o livro, salta à vista. Mais ainda quando se lê o título. Mas o coração do Pedro não está gasto. Está aparentemente gasto, porque ele o quer gasto e que todos o recebam com um coração gasto. O meu, nem pensar! Se o fim nem sequer chegou para esgotar o que nem sequer existiu, como poderia eu alguma vez gastar o meu coração?
A lufada de ar fresco ficará a pairar no ar. Na próxima semana, refarei toda a minha rotina mais uma vez (a antiga também não chegou a ser rotina). E preparo-me para esquecer tudo o que já deveria ter esquecido há muito. Sexta, às nove e meia, lá estarei.
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