Louise Josephine
Louise é, afinal, Louise Josephine. Josephine era o nome da sua mãe. Só prestei atenção a este pormenor há pouco tempo, não que seja relevante – não o é – mas porque às vezes precisamos deste tipo de coisas insignificantes para nos divertirmos um pouco com a história. Curiosamente, chez Louise é uma história que acontece na casa e na obra de Louise Josephine. É a história de um encontro e terá de sobreviver através deste tipo de pormenores insignificantes. Como por exemplo, se Louise Josephine bebe chá ou café. Caso contrário, fica muito aborrecida de tantas coisas sérias que fala. Quando pensava na estrutura deste novo trabalho, cheguei à conclusão que este tinha de conter, obrigatoriamente, uma espécie de sub-texto, alojado nas entrelinhas, para quebrar aquele peso que as palavras carregam quando falam de medos, angústias, falhas, rejeições... tudo aquilo que a maior parte de nós coloca dentro de um frasquinho de vidro azul escuro no mesmo armário dos medicamentos. Não se trata de encontrar uma possível harmonia, mas de um simples exercício de leveza, de pôr o texto a dançar. Para mim, é mais difícil fazê-lo, se não recorrer a estes dispositivos de alegria (chamemo-lhes assim, mesmo que continuem a falar de medos, angústias, falhas e rejeições). Uma segunda ideia é mais distante no tempo. Gostava de poder escrever este trabalho - porque é uma história, também - apenas recorrendo a "palavras minhas." Nada de citações. Esta tarefa é ainda mais difícil de cumprir, porque aparecerão ideias muito concretas das duas personagens e estas falam melhor por si do que eu por elas. Algumas citações deverão, por isso, aparecer. Mas reduzir todo o texto ao essencial: ao que quero dizer. Ora, o que quero dizer tem de ser suficientemente forte para se aguentar em pé e não dar cabo do resto do texto ou, pior ainda, do sub-texto. Este, dessa forma, resultaria patético e completamente inútil. Infelizmente, enquanto me divertia a pensar em tudo isto, uma fibrazinha de um tendão do meu braço direito rompeu. Já alguns dias que esta dor me persegue e se intensifica sempre que me sento a escrever. Quando descobri, disseram-me que tinha de imobilizar o braço direito: "E como é que eu vou escrever?" Entrei em pânico, em desespero e, por fim, em rebeldia. Não imobilizaria o braço, acarretaria com as consequências. Os médicos nem sempre têm razão e não percebem coisa alguma de uma vontade e de um esforço que vêm do fundo de nós próprios. Acalmei: não necessitaria de imobilizar o braço e tinha, apenas, de ter alguns cuidados, como colocar um emplastro e tomar um anti-inflamatório. Escrevo com alguma dor, mas já não consigo imaginar-me sem escrever e jamais permitirei que me tirem isso. Terá sido excesso de escrita?
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