O fim dos dias
Parece estranho, mas ultimamente tenho andado com aquele sentimento de que não importa o que façamos ou que não façamos, os dias continuam a contar e o melhor que há é acelerarmo-nos a nós próprios e retirar deles exactamente o melhor. Ou, no meu caso, o limite de situações banais que, usualmente, entediam-me até à ponta dos cabelos. Entender o limite do dia próprio como que o limite do corpo próprio afinal não é novidade alguma.
Ontem tive o enorme prazer de ouvir um amigo que há muito não ouvia (sim, foi só ele que falou comigo, mas bastou e o mais curioso é que andava há mais de um mês para falar com ele e tinha exactamente na cabeça a situação em que seria eu a falar e ele a ouvir...). Dizia o Nuno que devemos "entrar a matar", "dizer aquilo que temos a dizer como no último dia da vida" (da nossa ou da de alguém) e que depois a vida prolongar-se-ia "em liberdade". Entender o nosso momento presente como o último dia da nossa vida é tão simples, continuava o Nuno. Quantas vezes não dizemos tudo aquilo que queríamos já há muito dizer e só arranjamos coragem de o fazer quando estamos perante o limite, seja este a morte ou outro... Eu tinha essa ideia que dizia sempre aquilo que pensava e sentia e que não tinha "papas na língua". Mas ontem percebi que não... pois onde está a liberdade de que falava o Nuno? E é verdade... Foram poucas as vezes em que isso me aconteceu, pensei, enquanto continuava a ouvir o Nuno... Nem sequer consigo agora localizá-las no tempo, só consigo localizar a sensação de liberdade, de "prolongamento da vida", como diz o Nuno, no meu corpo. E como é bom sentir isso! Creio mesmo que quando não sinto essa liberdade é porque alguma coisa ficou por dizer. É porque ainda tenho a dizer alguma coisa. Ou que ainda tenho a fazer alguma coisa. No fim, compreendo o meu limite ao contrário. Desfaço o espaço que o circunscreve, invertendo-o. Cada momento não é o último, mas sempre o primeiro. O primeiro dia do fim dos dias. Como há tempos atrás, que se lixe o tempo! E o antes e o depois. E, claro, o presente.
Ontem tive o enorme prazer de ouvir um amigo que há muito não ouvia (sim, foi só ele que falou comigo, mas bastou e o mais curioso é que andava há mais de um mês para falar com ele e tinha exactamente na cabeça a situação em que seria eu a falar e ele a ouvir...). Dizia o Nuno que devemos "entrar a matar", "dizer aquilo que temos a dizer como no último dia da vida" (da nossa ou da de alguém) e que depois a vida prolongar-se-ia "em liberdade". Entender o nosso momento presente como o último dia da nossa vida é tão simples, continuava o Nuno. Quantas vezes não dizemos tudo aquilo que queríamos já há muito dizer e só arranjamos coragem de o fazer quando estamos perante o limite, seja este a morte ou outro... Eu tinha essa ideia que dizia sempre aquilo que pensava e sentia e que não tinha "papas na língua". Mas ontem percebi que não... pois onde está a liberdade de que falava o Nuno? E é verdade... Foram poucas as vezes em que isso me aconteceu, pensei, enquanto continuava a ouvir o Nuno... Nem sequer consigo agora localizá-las no tempo, só consigo localizar a sensação de liberdade, de "prolongamento da vida", como diz o Nuno, no meu corpo. E como é bom sentir isso! Creio mesmo que quando não sinto essa liberdade é porque alguma coisa ficou por dizer. É porque ainda tenho a dizer alguma coisa. Ou que ainda tenho a fazer alguma coisa. No fim, compreendo o meu limite ao contrário. Desfaço o espaço que o circunscreve, invertendo-o. Cada momento não é o último, mas sempre o primeiro. O primeiro dia do fim dos dias. Como há tempos atrás, que se lixe o tempo! E o antes e o depois. E, claro, o presente.
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