domingo, fevereiro 05, 2006

Os ratos caíram em Lisboa e nenhum gato os apanhou...


Quando soube que os mouse on mars vinham a Lisboa, as palavras da Mok sobre o Sonar - "O melhor concerto foi sem dúvida o dos mouse on mars. Foi brutal..." – não podiam ter vindo à memória em melhor ocasião. Ainda por cima, tudo parecia reunir-se numa alegre composição espontânea: a Mok vinha a Lisboa ver o concerto que os irmãos organizavam - e há quanto tempo é que eu não via a Mok?! Há três anos... por entre gargalhadas no Royale, a medida de tempo para tudo, como diria o Artur, amigo da Mok, um dos que só conhecia de nome das conversas de Barcelona e que tive a alegria de poder conhecer nesta Sexta-feira à tarde, foi tudo há três anos... há três anos que tínhamos estado em Barcelona juntas -, a Raquel e o Pedro estavam por Lisboa e decidiram ir ao concerto, também, e, por último, a aula da manhã da Maria Teresa Cruz sobre esse hipermedium que é o computador, não poderia ter melhor demonstração prática (com todas as implicações audiovisuais, basta ver o site dos ratinhos...)!
Os prenúncios, de facto, não podiam ser melhores! E a expectativa em nada excedeu a constatação real dos factos. É um facto que os tipos são muito bons. O que não pôde ser deduzido da minha condição in loco. Esgotada, não de um dia, mas de muitos que começam a ter consequências sérias no meu corpo, mal consegui dançar e o meus ritmos reduziram-se à combinação binária das sequências em tons de verde que, de vez em quando, lá apareciam nas paredes da sala, alternando com as "bio-sequências". Mas tudo o que o corpo não disse explicitamente, di-lo-ei eu. O lapso temporal entre essa outra sequência e a reflexão na minha memória será inexistente e abolido de início. Não poderia ter sido melhor. E, mesmo entre o meu sim-não (para exemplificar de outra forma), a saída é sempre possível. Neste caso específico, a saída de mim mesma, enquanto corpo, e habitar os outros corpos que sucumbiam energicamente numa sala despovoada.
Eis algo incompreensível. Uma sala despovoada. Num duplo sentido, claro. Se todos desabitaram os seus corpos momentaneamente ou não, não o poderei dizer, mas o nervosismo dos irmãos da Mok afinal tinha algo de verdadeiro. Não pelo concerto, que "foi brutal", mais uma vez, mas por esses corpos que habitam (n)uma cidade com pretensão à universalidade (um sorriso à "Maria Teresa Cruz"; afinal o que é computador senão um medium com pretensão à universalidade?!). Das palavras da Mok sobre o Sonar, lembro-me, também, daquelas que indicavam uma sala a abarrotar em que mal se conseguia dançar ou, simplesmente, estar. Claro que é preciso entender o contexto do Sonar. E a quantidade de pessoas que move. O culto não é um mito, de certeza. Mas em Lisboa, éramos poucos. O que foi fantástico para os que conseguiram dar asas aos seus corpos e levantar voo até Marte! (Também eu, ainda que um peso maldito me obrigara a estar presa ao chão.) Na segunda vez que subiram ao palco, os mouse on mars pediram para escurecerem mais a sala. Segundo o Rodrigo, um ambiente mais escuro ajudaria a intensificar as reacções dos corpos dançantes. Sim, para criar uma superfície lisa (a Deleuziana, claro!) de modo a intensificar a sensação. Ou, simplesmente, porque a abstracção já ia num outro nível. Lisboa deslocara-se definitivamente para um outro lugar. Barcelona, Paris, Nova Iorque, Londres, Berlim... Marte! Não interessa. O espaço eclipsara num instante. Os seleccionados para a viagem tinham sido os privilegiados. Da memória retiniana, ficaram ondas azuis.