9 de Abril
É um dia difícil. É um dia marcante. A minha avó Luísa faleceu neste dia, há seis anos, para ser mais precisa. E o fado que mais gostava de cantar chamava-se "9 de Abril." Há três anos defendi a minha prova final de licenciatura e acabei o curso. Hoje... hoje pergunto por que é que fico sempre tão transtornada com a proximidade deste dia. E há coisas que teimam em acontecer, como se este dia já não fosse suficientemente importante para mim. Sei que desde há seis anos para cá, a tudo o que quer que aconteça neste dia, eu também lhe atribuo um significado acrescido...
Ontem fazia a minha viagem de Lisboa para Coimbra, que já não fazia há quinze dias, os mesmos quinze dias que ficara fechada em casa a terminar o trabalho no âmbito do seminário da Maria Teresa Cruz, a ouvir o mesmo cd que ouvira durante esses quinze dias e a pensar o que é que faz as pessoas mudar. E esta mudança a que me refiro, não é uma qualquer mudança, não! É uma mudança radical! De um momento para o outro, olhamos para uma pessoa, falamos com ela e percebemos que ela já não é a pessoa que conhecemos. E, pior! Que essa pessoa já pouco nos diz. Uma viagem? Sim, acredito que uma viagem possa provocar uma mudança radical numa pessoa. Eu própria ansiei por isso, quando fui para Barcelona seis meses. Se vim diferente? Sim, Barcelona mudou a minha percepção de muitas coisas e por isso sinto tantas saudades de Barcelona... Imensas! Mas pergunto... com uma iminente viagem, digamos que a... Nova Iorque! Um mês, apenas. Ou cinco dias... Será que uma viagem tem esse poder? Todas as viagens, que fiz até hoje, marcaram-me de uma forma ou doutra e antes de todas elas senti essa necessidade de evasão. Uma evasão que era inseparável de um desejo profundo de mudança. O encontro com o Outro desperta essa vontade em mim. Ou talvez... o encontro comigo mesma, sob outra forma de mim mesma que, até àquele momento, me era desconhecida. O mais engraçado é que, em todas essas vezes, voltei com a mesma vontade de recuperar um momento que imaginava cristalizado durante a minha ausência e, estranhamente, a desejar, ainda mais, uma nova evasão. Normalmente, durante os dias que se seguem ao do regresso de uma viagem, tenho sempre a sensação que pairo no lugar onde me encontro e no tempo que decorre. Como uma presença fantástica. Muito subtil... quase transparente. Intermitente. Creio que seja pela indefinição que me ausento e regresso simultaneamente. Portanto, acredito que uma viagem possa mudar radicalmente uma pessoa. Basta que ela estabilize a sua imagem num intervalo.
De forma semelhante, um encontro também permite a mudança. O encontro com o Outro transforma-se num encontro específico, com condicionantes muito precisas, num contexto inalterável. Com tanta delimitação, a mudança parece ser a única via possível para o encontro não se transformar novamente, mas, desta vez, em desencontro. Mas propiciará uma mudança radical? E sob que circunstâncias é que a mudança deixa de ser uma simples mudança, um simples ajuste, e se transforma em mudança radical? Assusta-me, verdadeiramente, a mudança radical. Ou assusta-me a mudança radical quando perco algo em mim de que tanto gostava. E este algo é quase sempre interior por ser, primeiramente, exterior, porque as operações internas são resultado de outro tipo de relações que envolvem mudanças radicais temporárias. Por essa razão, as operações internas são, também, mais flexíveis e cada pessoa reconhece a sua fantástica capacidade em mudar. Creio mesmo que a mudança radical seja permitida por essa mesma flexibilidade interior. O que é um pouco contraditório com a própria noção de mudança radical. A não ser que considere que a mudança radical só seja possível exteriormente. Ou, por outro lado, que algo do interior tenha permanecido, durante um tempo, camuflado. Não sei o que será pior. E sinto o mesmo quando não sei o que é que faz as pessoas mudar. Embora sinta que determinados acontecimentos devam permanecer na perplexidade, insurjo-me sempre perante a incompreensão. E não estou a pensar que essa incompreensão de certa forma me completaria. Não! Estou a pensar numa coisa muito simples. A mudança radical dá lugar a uma negação. A uma destruição. E quem é que gosta de ver destruídas as coisas de que gosta mais? E quando não são coisas, mas pessoas?
De forma semelhante, um encontro também permite a mudança. O encontro com o Outro transforma-se num encontro específico, com condicionantes muito precisas, num contexto inalterável. Com tanta delimitação, a mudança parece ser a única via possível para o encontro não se transformar novamente, mas, desta vez, em desencontro. Mas propiciará uma mudança radical? E sob que circunstâncias é que a mudança deixa de ser uma simples mudança, um simples ajuste, e se transforma em mudança radical? Assusta-me, verdadeiramente, a mudança radical. Ou assusta-me a mudança radical quando perco algo em mim de que tanto gostava. E este algo é quase sempre interior por ser, primeiramente, exterior, porque as operações internas são resultado de outro tipo de relações que envolvem mudanças radicais temporárias. Por essa razão, as operações internas são, também, mais flexíveis e cada pessoa reconhece a sua fantástica capacidade em mudar. Creio mesmo que a mudança radical seja permitida por essa mesma flexibilidade interior. O que é um pouco contraditório com a própria noção de mudança radical. A não ser que considere que a mudança radical só seja possível exteriormente. Ou, por outro lado, que algo do interior tenha permanecido, durante um tempo, camuflado. Não sei o que será pior. E sinto o mesmo quando não sei o que é que faz as pessoas mudar. Embora sinta que determinados acontecimentos devam permanecer na perplexidade, insurjo-me sempre perante a incompreensão. E não estou a pensar que essa incompreensão de certa forma me completaria. Não! Estou a pensar numa coisa muito simples. A mudança radical dá lugar a uma negação. A uma destruição. E quem é que gosta de ver destruídas as coisas de que gosta mais? E quando não são coisas, mas pessoas?
Também há dias que nos fazem mudar. Se radicalmente ou não, não consigo responder. Mas às vezes é bom desprover-lhes o significado. Retirar-lhes o número como significante na sua relação connosco.
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