O limite
É engraçado como é que vimos a descobrir o nosso próprio limite ou o limite do corpo próprio. Se por um lado, o nosso corpo contém esse infinito dentro de si e são ilimitadas as suas capacidades, as suas necessidades, os seus desejos, se a sua condição é ser esse infinito, por outro lado, é frágil no seu limite. A sua condição de infinito é, na realidade, muito finita, muito condicionada. Os órgãos, de facto, atrapalham muito. E, depois de conhecer essa sua condição frágil e específica do meu limite, como me apercebi disso! Os órgãos, como Deleuze tantas vezes referiu, são obstáculos físicos a esse infinito transcendental (e por isso criou o "corpo sem órgãos").
Há alguns dias atrás, ou meses atrás, soube do quão perigoso seria aproximar-me de um qualquer limite imposto pela organização do meu corpo próprio. A minha única preocupação parecia ser, naquela altura, a minha dificuldade em dormir aquele número de horas que acredito ser o ideal para o meu funcionamento biológico. Com x horas, fico bem. Ontem, a minha preocupação era se eu poderia continuar a beber café. Com os trabalhos que tenho para fazer, o café tornou-se um aliado imprescindível e privar-me dele seria o fim do mundo. Mesmo que o fim naqueles minutos antecedentes me tivesse parecido demasiado próximo. Mas, como qualquer limite, depois de ultrapassado perde a sua condição de limite. E olhar para ele desse seu outro lado, transforma-se em algo difuso, imperceptível aos nossos olhos. Já não olhamos para ele como limite, mas também não o deixamos de apreender e registar como limite. Aquela zona indiscernível que lhe é intrínseca permite-nos continuar a olhar para ele como limite. Quer o tenhamos ultrapassado ou não. Porque ele perpetua algo de indecifrável, um momento que não se diz por causalidade alguma. Ainda que algumas justificações tentem emergir do horror ao não-se-saber-porquê.
Abano a cabeça perante tamanha sabedoria de algumas pessoas. Não propriamente àquelas de quem a Maria Ana foge a sete pés, mas exactamente àquelas que perceberam que o corpo próprio tem tanto de liberdade, como de prisão. Nos próximos dias, não tenho outro remédio senão mesmo usar uma lima para aço e aos poucos conquistar de novo a minha doce liberdade. Descanso. Por entre um café ou outro.
Há alguns dias atrás, ou meses atrás, soube do quão perigoso seria aproximar-me de um qualquer limite imposto pela organização do meu corpo próprio. A minha única preocupação parecia ser, naquela altura, a minha dificuldade em dormir aquele número de horas que acredito ser o ideal para o meu funcionamento biológico. Com x horas, fico bem. Ontem, a minha preocupação era se eu poderia continuar a beber café. Com os trabalhos que tenho para fazer, o café tornou-se um aliado imprescindível e privar-me dele seria o fim do mundo. Mesmo que o fim naqueles minutos antecedentes me tivesse parecido demasiado próximo. Mas, como qualquer limite, depois de ultrapassado perde a sua condição de limite. E olhar para ele desse seu outro lado, transforma-se em algo difuso, imperceptível aos nossos olhos. Já não olhamos para ele como limite, mas também não o deixamos de apreender e registar como limite. Aquela zona indiscernível que lhe é intrínseca permite-nos continuar a olhar para ele como limite. Quer o tenhamos ultrapassado ou não. Porque ele perpetua algo de indecifrável, um momento que não se diz por causalidade alguma. Ainda que algumas justificações tentem emergir do horror ao não-se-saber-porquê.
Abano a cabeça perante tamanha sabedoria de algumas pessoas. Não propriamente àquelas de quem a Maria Ana foge a sete pés, mas exactamente àquelas que perceberam que o corpo próprio tem tanto de liberdade, como de prisão. Nos próximos dias, não tenho outro remédio senão mesmo usar uma lima para aço e aos poucos conquistar de novo a minha doce liberdade. Descanso. Por entre um café ou outro.
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