quarta-feira, abril 12, 2006

O reencontro

Um dia lindíssimo em Lisboa. Um dia a antecipar o Verão. Nada de especial. No entanto, quando estava à espera do comboio na estação do Oriente, o sol de frente, a ouvir música no ipod, o que já não fazia há algum tempo (há muito tempo, aliás), todo o meu Verão do ano passado surgiu do nada. O mesmo calor no corpo, a mesma música que percorreu o meu Verão. Já nem me lembro há quanto tempo não ouvia Arcade Fire. E, subitamente, aquele sentimento absurdo de nostalgia. Tenho alguma dificuldade em compreender a nostalgia. Hoje, creio que encontro uma desculpa razoável para a aceitar. Duas horas antes, o Hugo telefonara-me. Já está cá, em Coimbra, mais precisamente. Todas as pessoas sabem (ou quase todas) que tenho sempre imensas saudades do Hugo. Nunca confundo saudades com nostalgia, porém. Tenho sempre imensas saudades dos meus amigos e da minha família. Mal me despeço de alguém, como aconteceu há pouco tempo com um amigo muito especial, as saudades atingem-se de imediato. Dizia a esse amigo, que logo após ele ter entrado no carro, junto da minha casa, um sentimento de tristeza tomou conta de mim e acreditei que fosse pelo abraço que me deu. Acredito que os abraços têm mais a ver com despedidas do que dois beijos na face, também. Mas nunca este meu sentimento de tristeza temporário (porque me custa afastar dos meus amigos, custa-me tê-los longe de mim) e as saudades, que sinto sempre tão intensamente, são sintomas de nostalgia. Digo sintomas propositadamente. Não que compreenda a nostalgia como uma doença, mas porque a ligo sempre ao passado. Mesmo que acredite que passado, presente e futuro estejam constantemente a fundir-se e me seja extremamente difícil dissociá-los, a nostalgia reporta-se a um acontecimento específico e a um tempo passado preciso. E se existiram momentos marcantes em mim, pertencem a esse tempo do Verão, e não a um, mas a muitos acontecimentos indissociáveis espacial e temporalmente. Evito lembrar-me de qualquer um. Também não consigo associar a nostalgia a momentos agradáveis. Muito menos como forma de reviver determinados momentos. Nunca são os mesmos momentos. Creio que é pela intensidade que pretendo de cada um que me custe a aceitar revivê-los. Reduzo a nostalgia a um momento passado e a um momento de tristeza pura. E ambos são contrários a mim. Mas hoje, naquele momento preciso em que ouvia a música dos Arcade Fire, deixei-me por uns minutos permanecer nesse lugar absurdo da minha memória. A memória táctil é quase sempre mais poderosa do que a visual. Ou mesmo do que a sonora. E a sonora estava tão perto de mim quanto a táctil. As duas juntas aprisionaram-me nesse tempo passado, nesse lugar absurdo. O Hugo? O Hugo foi um dos meus amigos que esteve sempre comigo, não obstante estar em Pamplona (como já aqui referi).
Agora que regresso a Coimbra, ao mesmo tempo que regresso desse estado desprezível, esqueço novamente tudo. Ainda que escreva sobre ele, nos minutos após me ter atingido, já me abandonou. Já ouço outra música, a temperatura do meu corpo já desceu, o sol quase desapareceu. "Gigantic"! Outro Verão. Esse repete-se este ano. Eu e o Gonçalo aos saltos no fantástico concerto dos Pixies, há dois anos atrás. Dia 20 de Julho: regressamos!