sexta-feira, fevereiro 22, 2008

First we take…

Berlin, then we take Manhattan... Uma pequena inversão à canção de Leonard Cohen. Pelo meio, uma viagem rápida a Londres, cujo único registo, a valer a pena, é o da memória da exposição de Louise Bourgeois, na Tate Modern. Regressei desolada, desencantada, de Londres, uma das cidades do meu imaginário que ainda não tinha visitado. Deverei, talvez, resguardar algum sentimento de carinho que possa, um dia, eventualmente, sentir ainda por Londres. A visita foi rápida, também. Apenas um fim de semana para ver a exposição de Louise. O parênteses devido: um maravilhoso encontro. A exposição estava, extremamente, bem montada, acompanhada por pequenos textos sobre as obras em cada uma das salas, muito precisos, sem aqueles erros comuns sobre a obra de Louise. Porque, depois de Berlim, todas as cidades parecem ridículas. Com a excepção de uma: Nova Iorque. A Nova Iorque, regresso daqui a quinze dias e para ficar. Pelo menos, algum tempo, que será precioso neste momento. Há uns dias atrás, temia imenso esta viagem. Mais do que a mudança definitiva para Lisboa, a mudança para Nova Iorque vai ser demasiado violenta, demasiado brusca. Receio mesmo ainda não estar preparada. Mas o que é que eu posso fazer? Não podia adiar mais a minha ida. Há demasiadas coisas em jogo. Agora, com a proximidade da viagem, começo a sentir a ansiedade de rever aquela cidade extraordinária, começo a sentir aquela vontade louca de ir ali e acolá, a escassez do tempo, fazer isto e aquilo... Já só penso em Nova Iorque. Revejo filmes, imagens tão familiares, mas sempre sedutoras. Não consigo deixar de pensar em Nova Iorque. Entretanto, a minha cabeça entrará em modo de abstracção pura. Sim, creio que passa lá a maior parte do tempo. Mas, desta vez, terá de ser mais eficaz. Há sentimentos, emoções, sensações, dos quais é difícil abstrairmo-nos. Por enquanto, o grau de excitação ainda é superior a tudo isso. Mas... depois... Adiante.
De volta a Berlim. Já há muito que devia ter escrito sobre Berlim. Berlim, apenas. Vou conter-me e limitar-me a falar da cidade! Ainda este fim de semana, ao reencontrar o José Manuel Rodrigues, com quem tinha imensas saudades de conversar, relembrámos, alegremente, por entre exclamações de saudades, as coisas fantásticas de Berlim. Os cafés. Em palácios antigos, casas de literatura, o melhor Apfel Strudel do Mundo! O pequeno-almoço, a qualquer hora do dia. Longo. Pela tarde fora, saltando o almoço. Não querendo saber do almoço, saber do tempo. O tempo em Berlim é, exactamente, aquele das Asas do Desejo. Lento, extenso, intenso. E o cinzento do céu não é senão aquele cinzento de uma espera longa num dia infinito... Em Berlim, dormíamos a sesta. Ao fim da tarde, antes de nos prepararmos para sair para jantar e dançar. Se nos deixassem (os nossos corpos, também, de algum cansaço), ficaríamos acordados até de manhã. A luz é sempre a mesma. A temperatura, também. Muito frio. Mas Berlim é perfeita para se andar a pé. Mesmo de noite, duas, três da manhã, sem avistar uma única pessoa, pelas avenidas imensas de Berlim Leste, com seis graus negativos... Berlim fervilha. É preciso estar atento. É muito diferente de Nova Iorque, por exemplo. Como James Murphy canta, o ritmo alucinante de Nova Iorque dá cabo de nós, fazendo-nos sentir pequeninos, impotentes, fazendo-nos ficar para trás... Arrasa connosco. É quase impossível mantermo-nos a par. Berlim, não. Mantém aquele tempo, de que ainda há pouco falava, e, ao mesmo tempo, não pára. Há imensas coisas a acontecer. Há sempre imensas coisas para fazer. Mas há, também, tempo, aquele tempo... De uma espera, que não é espera alguma, mas o tempo que é preciso para se apreciar as coisas. Para viver intensamente. Não consigo esquecer a imagem contemplativa de Maximiliam Hecker, mesmo ao nosso lado, enquanto passava música... Agora, depois dos dias em Berlim, consigo compreender por que é que existem tantos músicos a escolher Berlim para viver: Erlend Oye, Maximiliam Hecker, Jamie Lidell... Por que é que tantos escolheram um dia lá viver: Nick Cave, David Bowie, Iggy Pop... Por que é que tantos realizadores filmaram Berlim de uma forma única. E Berlim, passados alguns anos da Berlim que também povoava um dia a minha imaginação, continua incrível como sempre... Não sei quando é que lá regressarei. Sei que desejo voltar um dia. Para já, preparo o regresso a Nova Iorque.

A Susana L., um dia, enviou-me uma mensagem, extremamente magoada comigo, a reclamar o seu direito de leitora assídua deste blog. Tinha saudades de me ler, dizia. Também eu tenho saudades de conseguir escrever. Não tem sido fácil. Ainda não consegui perceber o meu novo mecanismo. Acho que é isso. Ainda não consegui ter espaço, dentro de mim, para escrever. E não me estou a referir a esta escrita de circunstância, como as conversas de circunstância que se têm ao longo da vida, mas àquela escrita, em que me sinto dentro de cada uma das palavras. Eu, disseminada, em cada, por cada, uma das palavras... Farei um esforço. É engraçado, porque, normalmente, os meus períodos de escrita correspondem a períodos de introspecção, de afastamento, de solidão quase... Voltarei a escrever. Quem sabe, a partir de Nova Iorque?