segunda-feira, outubro 23, 2006

Absolute Friends, here's to them!

"Mrs. Dalloway disse que ela própria ia comprar as flores." (Virginia Woolf)
Girassóis. As flores estavam escolhidas. É a flor que os meus amigos me oferecem sempre que faço anos (porque sabem que é a flor de que mais gosto...). Agora, era a minha vez: retribuir-lhes o gesto e oferecer-lhes uma festa. Eu própria compraria as flores. Não que quisesse tudo perfeito, nem que esse dia fosse a minha vida, aquela festa. Mas porque gosto imenso dos meus amigos (e penso na minha família, também) e sempre lhes retribuirei muito pouco do que me oferecem. Penso, por exemplo, em muitas das coisas que faço com tanto prazer, porque me imagino a partilhar esse momento (mesmo que, muitas vezes, póstumo) com eles. O convite. Esse foi o primeiro momento da festa e ainda faltava tanto tempo. Quis escolher algumas das fotografias que tenho dos meus amigos. Digo que são suplementos de memória, mas creio não precisar delas para me recordar de todos os fantásticos momentos que já com eles passei. É certo: quando olho para algumas delas - aquelas que seleccionei, por exemplo - desato a rir! Disse, reafirmo: "São o rosto, muito mais do que uma imagem, de momentos fantásticos que passámos juntos." A esses momentos, caber-me-ia acrescentar esse outro: a festa. Prepará-la, o segundo momento. Comprar as flores, preparar o jantar, escolher as bebidas, arranjar um espaço para dançar. E receber os meus amigos. Uma alegria imensa, em momentos, estonteante, até perder a noção do frio e do calor. Foram chegando e a minha alegria crescendo. O Neil (Hannon) tem essa música sobre Absent Friends, que conta a história de cinco amigos ausentes. A ausência é, na história de Neil, a ausência que esses "seus" amigos tinham de si mesmos (como se a vida se ausentasse deles, também) e não só por estarem ausentes na medida em que não estão connosco fisicamente, mas estão, por exemplo, a sua história e a sua obra. Well... I raise my glass to absolute friends! Não consigo imaginar-me sem eles. Ausente deles. Estar com eles é demasiado importante para mim. A expressão de um rosto é insubstituível. O riso, as gargalhadas são insubstituíveis. As suas vozes. A forma como pronunciam determinadas palavras ou nos sussurram outras baixinho aos ouvidos. Eles são tudo isso e tudo isso eu adoro neles. Alguns não puderam vir. Não são menos "absolutos" para mim do que os outros. Mas a tristeza que ainda pudesse sentir era essa de não os ver ali a conversar, a sorrir, a dançar. A pegar no copo e a levá-lo, lentamente, à boca. Ou a despedirem-se. No fim, o Afonso perguntou-me se eu me tinha divertido, porque era o mais importante, acrescentava. Respondi-lhe que sim, que me divertira imenso. Mas o mais importante para mim, para além da presença de todos eles, era proporcionar-lhes um momento feliz. Era isso. O último momento. E, neste, póstumo: obrigada!

quinta-feira, outubro 12, 2006

Louise Josephine

Louise é, afinal, Louise Josephine. Josephine era o nome da sua mãe. Só prestei atenção a este pormenor há pouco tempo, não que seja relevante – não o é – mas porque às vezes precisamos deste tipo de coisas insignificantes para nos divertirmos um pouco com a história. Curiosamente, chez Louise é uma história que acontece na casa e na obra de Louise Josephine. É a história de um encontro e terá de sobreviver através deste tipo de pormenores insignificantes. Como por exemplo, se Louise Josephine bebe chá ou café. Caso contrário, fica muito aborrecida de tantas coisas sérias que fala. Quando pensava na estrutura deste novo trabalho, cheguei à conclusão que este tinha de conter, obrigatoriamente, uma espécie de sub-texto, alojado nas entrelinhas, para quebrar aquele peso que as palavras carregam quando falam de medos, angústias, falhas, rejeições... tudo aquilo que a maior parte de nós coloca dentro de um frasquinho de vidro azul escuro no mesmo armário dos medicamentos. Não se trata de encontrar uma possível harmonia, mas de um simples exercício de leveza, de pôr o texto a dançar. Para mim, é mais difícil fazê-lo, se não recorrer a estes dispositivos de alegria (chamemo-lhes assim, mesmo que continuem a falar de medos, angústias, falhas e rejeições). Uma segunda ideia é mais distante no tempo. Gostava de poder escrever este trabalho - porque é uma história, também - apenas recorrendo a "palavras minhas." Nada de citações. Esta tarefa é ainda mais difícil de cumprir, porque aparecerão ideias muito concretas das duas personagens e estas falam melhor por si do que eu por elas. Algumas citações deverão, por isso, aparecer. Mas reduzir todo o texto ao essencial: ao que quero dizer. Ora, o que quero dizer tem de ser suficientemente forte para se aguentar em pé e não dar cabo do resto do texto ou, pior ainda, do sub-texto. Este, dessa forma, resultaria patético e completamente inútil. Infelizmente, enquanto me divertia a pensar em tudo isto, uma fibrazinha de um tendão do meu braço direito rompeu. Já alguns dias que esta dor me persegue e se intensifica sempre que me sento a escrever. Quando descobri, disseram-me que tinha de imobilizar o braço direito: "E como é que eu vou escrever?" Entrei em pânico, em desespero e, por fim, em rebeldia. Não imobilizaria o braço, acarretaria com as consequências. Os médicos nem sempre têm razão e não percebem coisa alguma de uma vontade e de um esforço que vêm do fundo de nós próprios. Acalmei: não necessitaria de imobilizar o braço e tinha, apenas, de ter alguns cuidados, como colocar um emplastro e tomar um anti-inflamatório. Escrevo com alguma dor, mas já não consigo imaginar-me sem escrever e jamais permitirei que me tirem isso. Terá sido excesso de escrita?