sábado, julho 15, 2006

"She shut her eyes and imagined the desert / No cars, no mobiles, just sun and bread"

(Belle and Sebastian)
Uma decisão difícil. Afastar-me de tudo o que me rodeia, de todos de quem mais gosto, fechar os olhos, pegar no meu carro e ir embora. Sem olhar para trás, sem vacilar. E pensar que "é melhor para mim." Mesmo que saiba que serão poucos os dias em que estarei sozinha naquela enorme casa (os meus pais, os meus sobrinhos, chegarão em menos de uma semana e meia), custar-me-ão como se fossem tantos outros. Mesmo que tenha saudades do cheiro de pinheiros e eucaliptos que entra pelo meu quarto nessa casa e de estar na varanda e olhar a imensidão do mar e sentir o mar a desfazer-se na minha pele, parecer-me-á tudo insignificante. E, no entanto, obrigo-me a isso. Anseio por isso. Imagino o deserto. Sorrio. Estarei a escrever sobre ele.
Terei carro, terei telemóvel, sol e pão. Mas aqui não escreverei durante algum tempo. Algumas coisas ficarão por dizer, antecipo esse concerto de Segunda-feira e os próximos... Estar perdida na casa de Josephine. Descobrir palavras novas. Saborear uma fantástica bola de Berlim. Correr atrás da Maria no jardim. E ralhar com ela para não trepar as escadas (e como as lá de casa são boas para isso!).

terça-feira, julho 11, 2006

Eu e as palavras por estes dias

Tenho-me resguardado das palavras, talvez porque esteja a passar por um momento de saturação. Tudo o que vejo à minha volta é palavras. Já não vejo coisas. Nem coisas-palavras. Apenas palavras. Todavia, aconteceu-me algo de curioso há uns dois dias atrás e o acto parece ter permanecido com a mesma brevidade com que apareceu na vontade das minhas mãos. Estava eu a ler Mille Plateaux (e a reler constantemente cada palavra, cada frase que passa, com medo de deixar passar alguma palavra ou frase intermitente), quando, subitamente, esmaguei o livro com o meu computador. Apetecia-me, realmente, coisa que já não acontecia em mim há algum tempo, escrever a introdução do meu trabalho para o seminário do José. A curiosidade está no facto de ter assumido isso logo nas primeiras palavras que saíram de mim. Aquilo que estava no momento a escrever era para ser lido nos mesmos instantes que pulavam quando eu trocava os dedos e constituíam uma história cujo desfecho desconhecia. Seria qualquer coisa como uma introdução "in progress" ou "under construction." Escrevi uma página e meia de enfiada. Hoje, imprimi-a para ver os erros. Continua tudo lá. A vitalidade que senti entre as minhas mãos e as minhas palavras, a força, a sedução de algo que poderá nunca conhecer o seu efectivo lugar no trabalho (mas, pela minha rebeldia, creio que acontecerá, exactamente, o contrário; e agora solto um sorriso atrapalhado com uma gargalhada). Mas também assim permaneceu. As palavras não desapareceram, mas voltaram a obrigar-me àquela exactidão dos enunciados. Talvez seja mais por esta razão que me resguarde das palavras e não tanto pelo devaneio que me causam por vezes. Esse acolho-o sempre. E desejo-o sempre.